quinta-feira, 11 de abril de 2024

Fechando a Olaria de faraó

“E os filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito, e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles. E levantou-se um novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José; O qual disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais poderoso do que nós. Eia, usemos de sabedoria para com eles, para que não se multipliquem, e aconteça que, vindo guerra, eles também se ajuntem com os nossos inimigos, e pelejem contra nós, e subam da terra. E puseram sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com suas cargas. Porque edificaram a Faraó cidades-armazéns, Pitom e Ramessés”. “Assim que lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o seu serviço, em que os obrigavam com dureza.”
Êxodo 1:7-11 e 14.

No Egito, o sol ardente parecia pintar a paisagem com tons de opressão e jugo. Era um lugar de amarras invisíveis, onde as correntes da escravidão emocional e espiritual prendiam os corações dos habitantes como algemas de ferro. Sob o olhar implacável de Faraó, cujo reinado se assemelhava à sombra do próprio diabo, as pessoas viviam subjugadas, esmagadas sob o peso de exatores cruéis.

Nas ruas poeirentas, as sombras dos oprimidos dançavam em meio ao calor sufocante, testemunhas silenciosas da derrota e da perseguição que assombravam aquele lugar. O Egito, para muitos, tornara-se sinônimo de escravidão, um lugar onde os sonhos eram abandonados à beira do Nilo, enquanto as águas fluíam como testemunhas mudas da estagnação.

Ali, os habitantes conviviam com forças obscuras e poderes sinistros que os aprisionavam em um ciclo interminável de coisificação, onde o crescimento era uma ilusão distante e a própria existência se reduzia a uma luta diária pela sobrevivência. Medo e comodismo eram as pedras fundamentais da vida no Egito, uma terra onde as bênçãos de Deus pareciam estar além do alcance humano.

Havia sinais, sutis, mas inegáveis, que denunciavam a presença de alguém aprisionado nas garras do Egito. Um olhar vazio, a resignação no caminhar, a ausência de esperança pintada nos rostos cansados... Todos esses eram testemunhos de uma vida vivida sob o domínio da opressão.

Mas mesmo nas sombras sufocantes do Egito, uma luz tênue brilhava no horizonte. Uma promessa divina ecoava nos ventos do deserto, sussurrando palavras de libertação e redenção. Pois Deus reservava uma terra prometida para aqueles que ousassem sonhar além das areias do deserto, uma terra onde a liberdade florescia como um jardim em plena primavera.

Portanto, para aqueles que se encontravam presos no Egito, que suas mentes e corações não se desesperassem, pois sua jornada não terminava ali; o Egito não era o seu lugar, e o destino reservado por Deus aguardava ansiosamente por sua chegada, onde finalmente poderiam experimentar as verdadeiras bênçãos da vida livre da opressão.

O Egito é um lugar onde os sonhos são arrancados brutalmente, onde cada amanhecer parece trazer consigo a morte de mais uma esperança. Nas ruas empoeiradas, os rostos marcados pelo desespero são testemunhas silenciosas da carnificina perpetrada contra os sonhos. É como se a própria atmosfera estivesse impregnada com o odor da morte dos anseios mais profundos do coração humano.

Ao longo dos anos, a tirania implacável de Faraó se ergueu como uma muralha intransponível, sufocando qualquer lampejo de aspiração que ousasse florescer nos corações dos oprimidos. Sob seu jugo cruel, os sonhos eram tratados como relíquias do passado, condenados à execução sumária, como se não houvesse espaço para eles na realidade desoladora do Egito.

Faraó urdia estratégias perversas para manter seu povo mergulhado na escuridão da escravidão, impedindo-os de ter tempo para Deus, para suas famílias, para si mesmos. Cada dia era uma batalha árdua pela mera sobrevivência, uma luta contra as correntes que os aprisionavam em um ciclo interminável de opressão.

O tirano Faraó lançava fardos sobre os ombros já cansados daqueles que ousavam sonhar, pesadas cargas que sufocavam qualquer lampejo de esperança, deixando-os sem fôlego para aspirar por uma vida melhor. Os sonhos eram esmagados sob o peso avassalador da escravidão, e aqueles que ousavam alimentá-los eram tratados como rebeldes que precisavam ser silenciados.

Mas mesmo no coração sombrio do Egito, uma voz sussurrava palavras de libertação e redenção. Deus, em sua infinita misericórdia, tinha planos para tirar seu povo daquela terra de morte dos sonhos, para arrancá-los das garras do assassino implacável que era Faraó. Ele ansiava conduzi-los para fora daquele lugar de desespero, onde os sonhos eram ceifados antes mesmo de terem a chance de brotar, e levá-los para uma terra onde a esperança florescia como um jardim em plena primavera.

No labirinto de sofrimento que era o Egito, a escravidão não vinha com um aviso prévio, não havia um contrato assinado que determinasse sua entrada naquela prisão de almas. Era como se as correntes da opressão tivessem se enroscado sorrateiramente ao redor dos tornozelos daqueles que agora se viam mergulhados na escuridão. Perguntar a alguém como havia chegado àquela condição de escravidão seria como indagar sobre a origem de um pesadelo; as respostas se perdiam em um nevoeiro de confusão e desespero.

Para muitos, a vida no Egito era como uma queda vertiginosa em um abismo sem fundo, onde a solidão, as derrotas e as frustrações aguardavam ansiosamente para recebê-los em seus braços gélidos. Eles se encontravam aprisionados em uma existência sem propósito, sem controle sobre seus próprios destinos, como marionetes nas mãos de um manipulador invisível.

A cada dia, as correntes da escravidão se apertavam mais e mais, sufocando qualquer lampejo de alegria ou realização. Eles estavam presos, mas muitos sequer percebiam a extensão de sua própria prisão. Em sua cegueira voluntária, não reconheciam Faraó como o opressor que ele era, e se conformavam com a miséria imposta por aquele que personificava a tirania.

No Egito, a paz era uma ilusão distante, o tempo uma miragem inalcançável. Mas o projeto de Deus para seu povo não era de desespero e opressão; era de libertação e restauração. Ele desejava curar as feridas da alma, restaurar a identidade perdida na escuridão do Egito e conduzi-los para fora daquela terra de escravidão sem motivo.

Para aqueles que estavam perdidos nas sombras do Egito, a promessa de Deus era um farol de esperança brilhando na escuridão, apontando para uma vida de liberdade e plenitude além das areias do deserto. Ele ansiava por guiá-los para fora daquela prisão de alma, para uma terra onde a paz reinava e o tempo se desdobrava em um ritmo divino.

No reino sombrio do Egito, o tempo era uma mercadoria escassa, um recurso a ser consumido vorazmente pelas garras insaciáveis da tirania de Faraó. Cada segundo era meticulosamente controlado, cada minuto devorado pelas exigências implacáveis da opressão. Sob o jugo do tirano, não havia espaço para o crescimento pessoal, para a busca de um propósito maior; cada momento era consumido pelas demandas intermináveis do trabalho árduo e da servidão.

Era uma existência marcada pela frustração, onde mesmo após uma vida inteira de labuta incessante, as recompensas pareciam se esquivar como sombras fugidias. Os habitantes do Egito viam seus dias se esvaírem em uma rotina exaustiva, sem vislumbrar qualquer perspectiva de melhoria ou realização. Era como se estivessem presos em um ciclo interminável de esforço sem recompensa, uma existência vazia de significado e propósito.

A perda de identidade era outra ferida infligida pela cruel mão do Egito. O povo de Israel, que um dia fora pastor de ovelhas, encontrava-se agora reduzido à condição de meros amassadores de barro, escravos em uma terra estrangeira. O Egito tinha o poder não apenas de roubar-lhes a liberdade física, mas também de corroer a própria essência de quem eram, transformando-os em sombras pálidas de sua verdadeira identidade.

Mas Deus não havia esquecido seu povo no Egito. Ele havia prometido libertá-los, restaurar-lhes a dignidade e conduzi-los para fora daquela terra de escravidão e desespero. Pois o escravo não tem projeto, não sonha, não planeja construir nada na vida; ele olha para o futuro e enxerga apenas um horizonte sombrio de derrota e resignação. No entanto, o coração de Deus ansiava por vê-los crescer, prosperar e florescer em sua plenitude.

No Egito, a presença de Deus era uma ausência palpável, um vazio que ecoava nas almas daqueles que haviam sido privados de sua luz e amor. Mas a promessa de Deus permanecia inabalável, um farol de esperança brilhando na escuridão, chamando seu povo para fora daquela terra de comodismo e desesperança. Pois havia uma posição no projeto de Deus para cada um deles, uma posição de liberdade, de propósito e de plenitude, esperando para ser ocupada por aqueles que ousassem sonhar além das areias do deserto do Egito.

Na desolação do Egito, a estrutura familiar tornava-se uma vítima colateral da opressão implacável de Faraó. O escravo, privado de sua identidade e de sua liberdade, via-se também destituído da estrutura sólida que deveria sustentar sua vida: a família. A falta de uma estrutura familiar definida era apenas mais uma das cicatrizes deixadas pela tirania do Egito, uma ferida aberta na alma daqueles que haviam perdido de vista o projeto de Deus para suas vidas.

Quando as mãos afrouxavam para os valores e princípios familiares, quando o pecado encontrava brechas para entrar e a maldição se aninhava em seus lares, a destruição se insinuava sorrateiramente, minando as fundações daquilo que deveria ser um refúgio de amor e segurança.

No entanto, a libertação do Egito trazia consigo não apenas a promessa de liberdade individual, mas também a restauração das famílias de Israel. À medida que Deus os conduzia para fora da terra da escravidão, Ele os chamava a reassumir seus papéis como cabeças de família, a liderar seus lares com coragem e determinação.

Assim, a marcha rumo à liberdade não era apenas uma jornada física, mas também espiritual e familiar. Era um chamado para que as famílias se erguessem juntas, unidas em sua busca por uma vida plena e abundante além das fronteiras do Egito.

Pois Deus não apenas desejava libertar seu povo da escravidão física, mas também restaurar sua integridade, sua identidade e seus laços familiares. Na marcha para fora do Egito, Ele os convidava a marchar juntos, como uma família restaurada, em direção ao destino que Ele havia preparado para eles desde o início dos tempos.

Podemos nos encontrar em profunda necessidade se não entendermos o princípio da posse. Temos o direito às promessas de Deus, mas só as teremos de fato se as conquistarmos pela fé. A terra de Canaã estava ocupada por outros habitantes (posse), mas era deles (direito) eles tinham o desafio de possuir.

As casas já estavam construídas, as lavouras plantadas, as arvores frutíferas, as ovelhas, os gados, as riquezas já estavam acumulados para o povo de Deus.

Deus é totalmente interessado na sua saída do Egito. Hoje é um dia sobremodo oportuno de libertação do Egito. Os hebreus eram escravos e por anos e anos clamavam pela liberdade.
Deus ouviu o clamor do povo e enviou o libertador.

Após muitos sinais e maravilhas que Deus realizou através de Moisés, finalmente o povo foi totalmente liberto. Faraó não se conformou e foi atrás para trazê-lo de volta, a fim de escravizá-lo novamente para que tornassem a amassar o barro e fazer tijolos.

Deus o livrou novamente fazendo mais maravilhas: abriu o Mar Vermelho e o povo passou no meio do mar em terra seca. O mar se fechou e o povo não mais viu faraó, não houve mais ameaças, nem perseguições de faraó, enfim o medo acabou e agora...rumo a liberdade.

Deus caminhava com o povo de noite como coluna de fogo para iluminar e aquecer, de dia como nuvem para dar sombra e proteção.

Mas...o que é isto? O povo está gritando? Não há mais perseguições...faraó ficou para trás...a escravidão não existe mais...e porque o povo está gritando? Ah...ficaram com saudades da cebola e do alho do Egito.

Se revoltaram contra Moisés e querem voltar atrás. Mas ...aqui não há faraó para intimidá-los, o povo caminha para a liberdade, mas resmungam, blasfemam, querem voltar a amassar barro, fazer tijolos, porque desejam o alho e a cebola do Egito.

Adoram ídolos e não percebem que Deus está no meio deles, levando-os para a liberdade na terra prometida. Triste fim de um povo que não valorizou os sinais e maravilhas que Deus realizou para salvá-lo e morreu no deserto, sem ao menos usufruir da liberdade na terra prometida.

Faraó não podia mais alcançá-los, o Mar Vermelho os separava. O diabo também não pode mais te alcançar pois o sangue de Jesus pagou o preço do seu resgate e agora você é de Deus...não torne para o pecado, para o ódio, drogas, não aceite o medo, angústia, ameaças do diabo pois você pertence a Jesus.

Os hebreus queriam voltar por causa da cebola e do alho, sentiram saudades da escravidão. Você tem saudades da escravidão do pecado? Ama tanto o pecado que quer voltar atrás? Você quer trocar a liberdade e a proteção divina pela escravidão e domínio de satanás?
Pare e pense...hoje pela liberdade que temos em Cristo, você pode escolher, mas se seus olhos forem fechados por causa do pecado, não haverá mais a liberdade de escolha. Resisti ao diabo e ele fugirá de vós.

Israel ficou cativo no Egito por 430 anos (Êx 12,40).

Israel não chegou ao Egito como mendigo, e nem pobre; chegou ao Egito, rico! Israel era a maior potência econômica da época.

Quando chegou ao Egito era cerca de setenta pessoas; o pai Jacó e onze filhos, doze, porém um já estava lá, José. Seus filhos com suas mulheres, suas mulheres com seus filhos, e segundo historiadores, setenta pessoas e cerca de quatrocentos empregados, muita prata, muito ouro. Só Rebeca em seu noivado recebeu dez camelos cheios de ouro e prata. Abraão era rico, e deixou sua riqueza para Isaque, e Isaque a Jacó, e toda a riqueza desceu para o Egito. Jacó, pai do governador do Egito(José), chegou ao Egito na carruagem de faraó, e teve cortejo ao entrar (Gn. 46,5-6). Foram morar em Gósen, condomínio dos Hebreus; só eles moravam ali; guardas o vigiavam. Quatrocentos anos depois, o muro do condomínio fora derrubado, as suas riquezas foram tomadas, prata, ouro, fazendas. Daí, são tomados como escravos, passando a amassar barro.

Aquele povo passou a conhecer a miséria, e essa humilhação só terminou quando clamaram ao Senhor. Deus está dizendo; eu vi a aflição do meu povo eu ouvi seus clamores e eu conheço. E só conhece aquele que está próximo; ou seja, Deus estava com o povo de Israel, e por quê ele demorou quatrocentos e trinta anos para tirá-los da escravidão? Porque ainda não haviam clamado.

Enquanto Israel não clamou, Deus não se manifestou. Quer deixar de amassar barro? “Clama a mim e responder-te-ei”

Deus é onisciente, onipresente, ele vê tudo. Deus viu o seu povo sendo humilhado por Faraó, viu suas riquezas sendo saqueadas, seus filhos eram partidos e jogados no rio Nilo, sendo comidos por crocodilos. Eles ficaram quatrocentos e trinta anos porque aceitaram e se acomodaram com a situação. Quando caíram na real e clamaram a Deus, Ele se levantou para libertá-los. O grande EU SOU se levantou e comprou a briga. Deus foi tão fiel, que os libertaram e os deram suas riquezas de volta (Ex. 3,22)

Faraó tipifica satanás, e este é quem está dominando este mundo; Israel tipifica a Igreja do Senhor Jesus.

Acabamos de ler que os filhos de Israel se multiplicaram, que eles eram fortes. Faraó não foi para cima deles com espada, mas arquitetou um plano, teve uma ideia diferente; vamos colocar serviços para eles.

“Assim que lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o seu serviço, em que os obrigavam com dureza.” O Senhor liberta da olaria de Faraó!

terça-feira, 2 de abril de 2024

A História de Mefibosete, o Pequeno Príncipe

 
Houve um tempo em que um garotinho irradiava alegria. Seu avô reinava com nobreza sobre Israel, enquanto seu pai personificava a beleza de um príncipe. Mefibosete, por sua vez, era como um príncipe em miniatura; desde cedo, era instruído para um dia assumir o trono de seu amado avô. Como é comum às crianças, Mefibosete adorava brincar, correr, jogar bola e tinha uma grande turma de amigos que o acompanhavam em suas aventuras.

Naquele dia ensolarado, Mefibosete saiu para um passeio especial com seu avô e seu pai, Jônatas, acompanhados por sua dedicada babá. Todos estavam radiantes, e o menino caminhava segurando as mãos amorosas de seus entes queridos. Contudo, o curso tranquilo do dia foi abruptamente interrompido por uma aparição sinistra no caminho: homens mal-intencionados, prontos para semear o caos. Sem aviso, eles lançaram um ataque cruel contra o avô e o pai de Mefibosete. A babá, tomada pelo desespero diante da cena horripilante, agarrou Mefibosete nos braços e saiu correndo, numa tentativa desesperada de salvar a vida do pequeno príncipe. Enquanto ela corria, os gritos angustiados de seu avô e pai ecoavam em seus ouvidos, uma melodia de desespero. Mas em meio à corrida frenética, um tropeço infeliz fez com que a babá perdesse o equilíbrio, resultando na queda de Mefibosete e na dolorosa fratura de seus dois pequenos pezinhos.

A tragédia irrompeu de maneira avassaladora, alterando irrevogavelmente o curso da vida daquele menino. Sem o amparo do avô, sem a proteção do pai, com os pezinhos tortos e apenas cinco anos de idade, viu-se obrigado a enfrentar o terrível fardo de fugir para preservar sua vida. Que calamidade inimaginável!

Sobreviver tornou-se uma batalha diária, uma luta contra os traumas e o choque violento da perda. Apesar dos obstáculos que surgiam incessantemente em seu caminho, Mefibosete persistia, determinado a seguir adiante, mesmo que o horizonte parecesse sombrio e desconhecido.

A vida é, de fato, um grande enigma, repleta de paradoxos e surpresas. Como explicar o surgimento de uma flor tão delicada em meio ao esterco? Não há respostas simples para esse mistério. A flor, por sua vez, não se detém em questionamentos. Em vez disso, diante do ambiente adverso, ela decide reagir. Em vez de se entregar ao desalento, ela emana perfume, lançando ao mundo sua essência interior.
 
É como se a própria flor soubesse que sua existência não é em vão. Ela se torna um exemplo vivo do milagre da vida, da capacidade de transformar adversidades em oportunidades, de encontrar beleza mesmo nos lugares mais improváveis. E assim, aqueles que cruzam seu caminho são cativados por sua beleza e encantados pelo aroma que exala. Não há coincidências na vida, apenas o eterno milagre da existência.

Assim como as frutas, cada ser humano é único, com suas próprias características e destinos. Mesmo que compartilhemos o mesmo mundo, as mesmas experiências e influências externas, cada indivíduo tem sua própria essência, sua própria jornada. Assim como as frutas têm diferentes sabores e utilidades, cada pessoa traz consigo uma riqueza única de talentos, perspectivas e potencialidades.

Podemos examinar uma maçã, contar suas sementes, observar sua forma e cor, mas jamais poderemos calcular quantas outras maçãs podem surgir a partir de uma única semente. Da mesma forma, por mais que tentemos compreender uma pessoa, nunca conseguiremos decifrar completamente sua complexidade interior, nem prever todas as possibilidades que ela pode gerar.

Assim, assimilamos a lição da natureza: a diversidade é o que torna a vida tão fascinante. Cada pessoa, como cada fruta, contribui de maneira única para a riqueza do mundo ao seu redor.

Na jornada da vida, as diferenças externas entre as pessoas são evidentes: a cor da pele, a textura do cabelo, a tonalidade dos olhos. No entanto, por mais distintos que possamos ser em aparência, todos compartilhamos uma necessidade fundamental: a busca pela vida, pela sobrevivência.

Não importa se somos negros, amarelos, brancos ou mulatos. Não importa se nossos olhos são azuis, pretos, castanhos ou verdes. Não importa se nossos cabelos são lisos, ondulados ou encaracolados. No fim das contas, todos estamos aqui, neste vasto mundo, com um objetivo comum: seguir adiante, enfrentando os desafios da existência e buscando alcançar nossos sonhos e aspirações. É essa unidade na diversidade que nos torna humanos. Por mais variadas que sejam nossas jornadas individuais, estamos todos conectados pela experiência da vida, pela busca da felicidade, pela superação das adversidades e pela realização de nosso potencial.

É esse vínculo intrínseco que nos lembramos de nossa humanidade compartilhada, de nossa interdependência e da importância de nos apoiarmos mutuamente nesta grande aventura chamada vida.

A história daquele pequeno príncipe não encontrou seu fim nas adversidades do passado. Com coragem e resiliência, ele cresceu e reconstruiu sua vida, tornando-se um homem de caráter exemplar. Apesar dos traumas que enfrentou na infância, Mefibosete não permitiu que eles o definissem. Ele encontrou amor, formou uma família e, com a chegada de seu filho, Mica, viu renovada a esperança e a alegria em seu coração.

O convite para retornar ao palácio foi um momento de redenção para Mefibosete. Sentar-se à mesa com o rei Davi não apenas representava o restabelecimento de seus direitos de nascimento, mas também simbolizava a reconciliação com seu passado e a aceitação plena de quem ele era.

Agora, em seu lar, cercado pelo amor de sua família e a paz de espírito que tanto merecia, Mefibosete podia finalmente desfrutar da felicidade que há muito tempo lhe fora negada. Apesar das cicatrizes do passado, ele encontrou a verdadeira plenitude em sua vida e era grato por cada momento de paz e alegria que o destino lhe concedia.

Ao olhar para a cruz, somos confrontados com o sacrifício supremo de Jesus Cristo, que suportou todas as formas de humilhação e sofrimento por amor a cada um de nós. Ele foi surrado, cuspido, açoitado, teve pregos cravados em suas mãos, espinhos em sua cabeça e foi atravessado por lanças. Tudo isso Ele suportou com amor e coragem, para cumprir o projeto divino de redenção e salvação da humanidade.

A mensagem da cruz é uma poderosa demonstração do amor incondicional de Deus por nós. Jesus prometeu estar conosco em todos os momentos de nossa vida, jamais nos deixando ou nos desamparando. Assim como um pai amoroso cuida de seus filhos, Ele nos assegura sua presença constante e seu apoio inabalável.

Ao meditarmos nessas palavras, somos lembrados do imenso valor que temos aos olhos de Deus. Somos seus filhos amados, e Ele está sempre ao nosso lado, pronto para nos sustentar, guiar e fortalecer em todas as circunstâncias da vida.
 
Levanta e anda. Se você acredita que seu problema é insuperável, que seu sofrimento é incomparável, permita-me apresentar a história de Mefibosete. Quem era esse homem e o que aconteceu com ele?

Mefibosete era filho de Jônatas, neto do rei Saul e, consequentemente, herdeiro do trono de Israel. No entanto, sua vida tomou um rumo dramático quando, ainda criança, sofreu um terrível acidente que o deixou aleijado de ambos os pés. Após a morte de seu pai e avô, Mefibosete viu-se em meio a um contexto de instabilidade política e perigo iminente, tornando-se um alvo em potencial para seus inimigos.

Entretanto, a história de Mefibosete não se resume apenas à tragédia de sua condição física ou às adversidades políticas que enfrentou. Sua jornada é também um testemunho de redenção, graça e amor incondicional. Por meio da bondade do rei Davi, Mefibosete encontrou refúgio e restauração. Davi, em um gesto de generosidade, restaurou a posição e a honra de Mefibosete, trazendo-o de volta ao palácio real e concedendo-lhe um lugar à mesa do rei.

A história de Mefibosete é uma poderosa narrativa de superação, perdão e restauração. Ela nos lembra que, mesmo diante das adversidades mais cruéis, ainda há esperança. Independentemente da extensão de nossas dificuldades, sempre há uma chance de renascimento, de encontrar graça e de experimentar a plenitude da vida que Deus deseja para cada um de nós.

Mefibosete nasceu em meio a privilégios, como herdeiro legítimo do trono de Israel. Seu pai, o príncipe Jônatas, e seu avô, o rei Saul, representavam sua linhagem real. Contudo, a felicidade da família real foi abruptamente interrompida por uma tragédia devastadora. Na batalha contra os filisteus, Saul e seus três filhos, incluindo Jônatas, foram mortos. O palácio ficou em alvoroço com a notícia, e, em meio à confusão, a ama de Mefibosete o tomou nos braços para fugir. Mas na pressa, um terrível acidente aconteceu: Mefibosete caiu e ficou aleijado de ambos os pés.

Pobre Mefibosete! Antes mesmo de compreender plenamente seu destino como príncipe herdeiro, viu-se despojado de seu direito legal ao trono. Seus sonhos foram esmagados num instante, sem que ele tivesse sequer a chance de nutri-los.

Além do pesar pela perda de seu avô, pai e tios em um único dia, o fardo daquela queda maldita o acompanhou para sempre, deixando-o marcado pela invalidez física.

Assim, a vida de Mefibosete começou em meio a uma tragédia que moldaria seu destino de maneira indelével, lançando-o em uma jornada de desafios, redenção e descoberta de sua verdadeira identidade e propósito.

Após duas décadas desde a tragédia que abalou a casa real de Israel, o rei Davi foi tomado por uma lembrança melancólica de seu grande amigo, Jônatas. Num gesto de amor e respeito por essa amizade que transcendeu adversidades e fronteiras, Davi fez a seguinte pergunta aos que o cercavam:

"Será que ainda resta alguém da casa de Saul, para que eu possa demonstrar bondade por amor a Jônatas?"

Essas palavras ecoavam não apenas o desejo de Davi de honrar a memória de seu amigo, mas também refletiam sua compaixão e generosidade, valores que o caracterizavam como um líder justo e compassivo. O gesto que se seguiria revelaria não apenas a grandiosidade de Davi como rei, mas também a profundidade de sua amizade com Jônatas e o compromisso com a justiça e a misericórdia.

Vamos à leitura completa do texto II Sam.9,1-13:

“E disse Davi: Há ainda alguém que tenha ficado da casa de Saul, para que lhe faça benevolência por amor de Jônatas? E havia um servo na casa de Saul cujo nome era Ziba; e o chamaram à presença de Davi. Disse-lhe o rei: És tu Ziba? E ele disse: Servo teu. E disse o rei: Não há ainda alguém da casa de Saul para que eu use com ele da benevolência de Deus? Então disse Ziba ao rei: Ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés. E disse-lhe o rei: Onde está? E disse Ziba ao rei: Eis que está em casa de Maquir, filho de Amiel, em Lo-Debar. Então mandou o rei Davi, e o tomou da casa de Maquir, filho de Amiel, de Lo-Debar. E Mefibosete, filho de Jônatas, o filho de Saul, veio a Davi, e se prostrou com o rosto por terra e inclinou-se; e disse Davi: Mefibosete! E ele disse: Eis aqui teu servo. E disse-lhe Davi: Não temas, porque decerto usarei contigo de benevolência por amor de Jônatas, teu pai, e te restituirei todas as terras de Saul, teu pai, e tu sempre comerás pão à minha mesa. Então se inclinou, e disse: Quem é teu servo, para teres olhado para um cão morto tal como eu? 

Então chamou Davi a Ziba, moço de Saul, e disse-lhe:

Tudo o que pertencia a Saul, e a toda a sua casa, tenho dado ao filho de teu senhor. Trabalhar-lhe-ás, pois, a terra, tu e teus filhos, e teus servos, e recolherás os frutos, para que o filho de teu senhor tenha pão para comer; mas Mefibosete, filho de teu senhor, sempre comerá pão à minha mesa. E tinha Ziba quinze filhos e vinte servos. E disse Ziba ao rei: Conforme a tudo quanto, meu senhor, o rei, manda a seu servo, assim fará teu servo. Quanto a Mefibosete, disse o rei, comerá à minha mesa como um dos filhos do rei. E tinha Mefibosete um filho pequeno, cujo nome era Mica; e todos quantos moravam em casa de Ziba eram servos de Mefibosete. Morava, pois, Mefibosete em Jerusalém, porquanto sempre comia à mesa do rei, e era coxo de ambos os pés”.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Novos Céus e Nova Terra

A nova terra será a morada eterna dos cristãos em Jesus Cristo. A nova terra e os novos céus são por vezes referidos como o “estado eterno”. As Escrituras nos dão alguns detalhes dos novos céus e da nova terra.

Os atuais céus e terra estão há muito tempo sujeitos à maldição de Deus por causa do pecado da humanidade. Toda a criação “geme e suporta angústias até agora” (Romanos 8:22) enquanto aguarda o cumprimento do plano de Deus e “a revelação dos filhos de Deus” (versículo 19). O céu e a terra passarão (Marcos 13:31) e serão substituídos pelos novos céus e pela nova terra. Naquele momento, o Senhor, sentado em Seu trono, diz: “Eis que faço novas todas as coisas” (Apocalipse 21:5). Na nova criação, o pecado será totalmente erradicado e “nunca mais haverá qualquer maldição” (Apocalipse 22:3).

O novo céu e a nova terra também são mencionados em Isaías 65:17, Isaías 66:22 e 2 Pedro 3:13. Pedro nos diz que o novo céu e a nova terra serão “nos quais habita justiça”. Isaías diz que “não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas.” As coisas serão completamente novas e a velha ordem das coisas, com a tristeza e a tragédia que as acompanham, desaparecerá.

A nova terra estará livre do pecado, do mal, da doença, do sofrimento e da morte. Será semelhante à nossa terra atual, mas sem a maldição do pecado. Será a terra como Deus originalmente planejou que fosse. Será o Éden restaurado.

Uma característica importante da nova terra será a Nova Jerusalém. João a chama de “a cidade santa... que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo” (Apocalipse 21:2). Essa gloriosa cidade, com suas ruas de ouro e portões perolados, está situada numa nova e gloriosa terra. A árvore da vida estará lá (Apocalipse 22:2). Essa cidade representa o estado final da humanidade redimida, para sempre em comunhão com Deus: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles.... os seus servos o servirão, contemplarão a sua face” (Apocalipse 21:3; 22:3–4).

Nos novos céus e na nova terra, dizem as Escrituras, há sete coisas notáveis pela sua ausência – sete coisas que “não existem mais”:

Não há mais mar (Apocalipse 21:1); não há mais morte (Apocalipse 21:4); não há mais luto (Apocalipse 21:4); não há mais pranto (Apocalipse 21:4); não há mais dor (Apocalipse 21:4); não há mais maldição (Apocalipse 22:3); não há mais noite (Apocalipse 22:5).

A criação dos novos céus e da nova terra traz a promessa de que Deus “enxugará dos olhos toda lágrima” (Apocalipse 21:4). Esse evento ocorre depois da tribulação, depois da segunda vinda do Senhor, depois do reino milenar, depois da rebelião final, depois do julgamento final de Satanás e depois do Julgamento do Grande Trono Branco. A breve descrição dos novos céus e da nova terra é o último vislumbre da eternidade que a Bíblia oferece.

sexta-feira, 1 de março de 2024

Onde Passaremos a Eternidade


Um dos maiores erros teológicos já propagados, que já ficou tão famoso e conhecido que até parece que é bíblico, é a crença de que o cristão passará a eternidade no céu, o famoso “morrer e ir para a glória”. Contudo, em lugar nenhum as Escrituras dizem ou deixam entender que o salvo irá passar a eternidade no céu. O que elas ensinam é que Deus fará uma nova terra, que não servirá de enfeite, mas para ser habitada:

“E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Apocalipse 21:1).
“Porque, eis que EU crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão” (Isaías 65:17).
“Porque, como os novos céus, e a nova terra, que hei de fazer, estarão diante da minha face, diz o Senhor, assim também há de estar a vossa posteridade e o vosso nome” (Isaías 66:22).
“Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (II Pedro 3:13).

Se a primeira terra Deus “não a criou sozinha, mas a formou para que fosse habitada” Is.45:18), quanto mais a nova terra, que é a terra transformada para que seja a habitação dos santos! Se o homem vive hoje na terra e Deus fará uma nova, só pode ser porque viveremos na nova terra no futuro. Isso porque a cidade celestial de que tanto falamos de fato está no céu hoje, “preparada” para o dia em que será habitada pelos santos (Hb.11:16), mas descerá do céu para ser habitada pelos remidos aqui na nova terra:

“Eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Apocalipse 21:2).

Portanto, não somos nós que subimos e vamos habitar na cidade celestial, é a cidade celestial que desce para a nova terra!

“Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: ‘Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus” (Apocalipse 21:3).

Como vemos, não são os homens que estarão com Deus no céu, é Deus quem estará com os homens na terra!

O tabernáculo de Deus, que hoje se encontra no céu, futuramente estará “com os homens”, isto é, aqui na terra. Foi por isso que Jesus disse que os pobres herdarão a terra, e não o céu:

“Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança” (Mateus 5:5).

Jesus não disse que a herança futura dos justos será habitar no céu, mas na terra! É evidente que todas essas passagens não se aplicam apenas ao milênio, mas a todo o período eterno. Apocalipse 21:1-3 é pós-milenar, e fala de coisas que acontecerão após o milênio. Mateus 5:5 não é uma referência apenas a um período de mil anos, mas ao período eterno, pois Jesus retirou tal citação do Salmo 37:29, que diz:

“Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre” (Salmos 37:29).

Não diz que os justos herdarão a terra por mil anos e depois irão para o céu, ou que irão para o céu imediatamente após a morte, mas que herdarão a terra para sempre. Por incrível que pareça, alguns imortalistas tem a ultrapassada ideia de que nós estamos hoje na terra, vamos para o céu após a morte, voltamos para a terra no milênio e depois voltamos de novo para a eternidade no céu! Essa confusão imortalista não tem base bíblica alguma, pois as Escrituras são claras em relatar que a herança do justo é a terra, que será transformada na criação da “nova terra” prometida por Deus.

A esperança dos judeus da época de Cristo sempre esteve baseada na convicção do Reino de Deus vindo, ou seja, de Deus um dia estabelecer Seu Reino de forma visível aqui na terra, onde passaremos a eternidade. Isso fica claro quando vemos a esperança que José de Arimateia tinha a este respeito:

“José de Arimateia, membro de destaque do Sinédrio, que também esperava o Reino de Deus, dirigiu-se corajosamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus” (Marcos 15:43).

Os judeus estavam esperando o Reino de Deus vir a eles, e não que eles mesmos fossem ao Reino de Deus na morte. É por isso que o próprio Senhor Jesus disse:

“Pois EU lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus” (Lucas 22:18).

Na oração modelo do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a orar: “venha o teu Reino, seja feita a tua vontade...” (Mt.6:10). 

Quando oramos pedindo que “venha o teu Reino”, não estamos pedindo a vinda apenas de uma pessoa (segunda vinda de Cristo), mas de um Reino. Esse Reino que virá nada mais é senão aquele mesmo Reino que João viu descer dos céus e se estabelecer na nova terra no Apocalipse (Ap.21:2), que é chamado de “a nova Jerusalém”. Jesus não orou para que ele voltasse, nem disse “venha o teu Filho”, mas que viesse o próprio Reino, em sua forma física e visível, como viu João e como esperavam os judeus.

Isso explica o porquê que vemos tantas vezes no Novo Testamento a menção de que “o Reino de Deus está próximo” (Lc.10:9; 10:11; 21:31; Mc.10:15), que quer dizer que esse Reino de Deus está chegando, que já está perto a hora em que o Reino chegará e será estabelecido aqui na terra. O Reino de Deus já havia chegado em sua forma espiritual (Lc.11:20), pois ainda não era o tempo de vir em sua forma visível (Lc.17:20), uma vez que em sua forma visível ele ainda não havia chegado, mas estava “próximo” (Lc.10:9; 10:11; 21:31; Mc.10:15), sendo estabelecido somente após o milênio (Ap.21:1-3).

Foi por isso que, ao chegar em Jerusalém, Jesus teve que “contar-lhes uma parábola, porque o povo pensava que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato” (Lc.19:11). Aquelas pessoas acreditavam que já estava na hora do Reino de Deus se manifestar em sua forma visível, da Jerusalém celestial descer do céu e do período eterno ter início, e por isso Jesus teve que contar uma parábola em que dizia que somente iria voltar “depois de muito tempo” (Mt.25:19).

A convicção não era de morrer e ir para o céu no momento da morte, mas se baseava na expectativa do estabelecimento visível do Reino de Deus aqui na terra, por toda a eternidade.

Quando Deus criou o homem originalmente, ele não o criou no céu, mas na terra. Portanto, seria mais condizente que, na restauração de todas as coisas (Mt.19:28), o padrão original de Deus para com a Sua criação fosse restabelecido com o homem em um Paraíso terreno. Adão e Eva foram criados na terra em um lugar específico, chamado “Jardim do Éden” (cf. Gn.2:15), mas foram expulsos de lá com a entrada do pecado no mundo, de modo que hoje esse Paraíso se encontra com Deus no céu (Gn.3:23,24; Ap.22:2,17).

Então, o que acontecerá quando houver a restauração de todas as coisas, quando o pecado for finalmente expulso do mundo? Esse Paraíso irá descer do céu e voltar para a posse dos seres humanos regenerados (Ap.21:2), assim como eram Adão e Eva antes do pecado. Seria incoerente que Deus tenha criado o homem originalmente na terra para que na restauração do modelo original fosse mudado para o céu. Nenhum escritor bíblico jamais expressou desejo de ir para o céu, o que eles almejavam era uma vida eterna. O Reino dos céus é o Paraíso celestial que hoje se encontra no céu, mas que descerá para a terra após o milênio (Ap.21:1-3).

Ao partirmos desta vida, nos encontraremos com Cristo no juízo após sermos ressurretos, e logo então ocorrerá o reencontro com os santos vivos arrebatados, junto a Jesus nos ares. Cristo vem com os seus santos (1Ts.4:14) porque estes santos foram ressuscitados primeiro (1Ts.4:16). Então, após o encontro entre os santos vivos arrebatados e os mortos ressurretos, o Senhor descerá à terra para estabelecer seu Reino milenar, quando a terra desfrutará de mil anos de paz.

Em seguida, haverá a ressurreição dos ímpios (Ap.20:5), que se reunirão e marcharão contra o Cordeiro e os santos na cidade de Jerusalém (Ap.20:8), e serão devorados pelo fogo consumidor que cairá do céu (Ap.20:9). Neste momento, todo o Universo é transformado pelo poder regenerador de Deus, novos céus e nova terra são feitos, e a cidade celestial, o Paraíso que estava no antigo céu, descerá para a nova terra, onde habitaremos para sempre com o Senhor. Toda essa visão também é compartilhada até mesmo por muitos pastores, que nem sempre tem coragem suficiente para admitir isso, pois seria negar um mito histórico que é a convicção de morrer e ir para o céu, que não possui qualquer respaldo bíblico.

Estar com Cristo é diferente de ir para o céu, pois estaremos com Cristo ressurretos no juízo, e não incorpóreos em um estado intermediário. Reino de Deus ou Reino dos céus também não é a mesma coisa do céu em si. Quando a Bíblia fala do Reino de Deus, ela pode estar se referindo simplesmente ao Evangelho (Mc.4:11; 4:26; Lc.4:43; 8:1; 8:10; 9:11; 9:60), ou também ao Reino dos céus, que se refere ao Reino que hoje está no céu, mas que descerá para a nova terra prometida após o milênio, quando a cidade celestial descer do céu e o próprio tabernáculo de Deus estiver com os homens (Ap.21:3).

Sendo assim, quando Cristo disse em Mateus 5:3 que “bem-aventurados são os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus” (cf. Mt.5:3), Ele não estava entrando em contradição com aquilo que Ele mesmo disse apenas dois versos depois, de que “bem-aventurados são os humildes, pois eles receberão a terra por herança” (Mt.5:5), nem tampouco estava dizendo que os humildes teriam um destino eterno diferente do destino dos pobres de espírito, porque o Reino dos céus de que Ele falava descerá à terra para habitarmos nela para sempre. Sendo assim, habitaremos na Jerusalém celestial (Reino dos céus) estabelecida sobre a nova terra. É por isso que a nossa maior esperança, como diz Pedro, não é de morrer e ir para o céu, mas de que, “de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2Pe.3:13).

E é por isso também que o apóstolo Paulo disse:

“Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Filipenses 3:20).

Note que Paulo não disse que nós vamos para o céu, mas que a nossa pátria está nos céus. Essa cidade, que Paulo diz que está hoje no céu, descerá por ocasião do fim do milênio, como diz João (Ap.21:2), se estabelecendo na nova terra. Paulo completa o pensamento dizendo que de lá (do céu) nós também esperamos o Salvador Jesus Cristo. Esse “também” colocado aqui pelo apóstolo liga esses dois acontecimentos, a descida de Jesus à terra e a descida da cidade celestial à terra. Não é apenas Jesus que irá vir à terra, mas também Jesus. Diante do contexto, esse “também” está relacionado à “nossa cidade que está nos céus”, a nova Jerusalém celestial.

Portanto, a convicção de Paulo não era em morrer e ir morar no céu para sempre, mas era a expectativa da volta de Cristo e da descida de cidade santa na nova terra prometida.

Infelizmente, a partir do momento em que a mentira da imortalidade da alma começou a ganhar força nas igrejas cristãs, essa realidade foi completamente distorcida e deturpada. As pessoas de hoje em dia oram dizendo “venha o teu Reino” sem saber o que isso significa. Têm em mente aquela versão popular da vida após a morte, onde a expectativa do cristão é baseada na ilusão de se estar no céu em um estado incorpóreo entre a morte e a ressurreição, e não na visão realista bíblica da vida corpórea e terrena após a ressurreição.

Toda uma teologia escatológica bíblica sólida foi destruída para dar lugar a um conto de fadas, onde espíritos flutuam nas nuvens do céu tocando flautas e conversando com os anjos, ao invés do realismo bíblico onde a vida futura se dá através da ressurreição de um corpo físico, para habitar em uma nova terra física, embora transformada do pecado e dos pecadores.

Embora o paganismo greco-romano e o judaísmo sustentassem uma grande variedade de crenças sobre a vida além da morte, os cristãos primitivos eram extremamente unânimes sobre o assunto.

Muitos cristãos tem a vaga impressão de que iremos para o céu, e lá passaremos toda a eternidade. Talvez por falharem em entender determinadas porções do Novo Testamento. Quando Paulo fala em Filipenses 3.20-21 que “nossa pátria está nos céus”, ele não está dizendo que iremos para lá quando terminarmos nossa obra aqui. O texto diz que Jesus virá do céu a fim de transformar nosso corpo presente em um corpo glorioso como o d’Ele, e que fará isso por meio “do poder que Ele tem de subordinar a si todas as coisas”. Em suma, o Jesus ressuscitado é o modelo para o corpo futuro do cristão e o meio pelo qual ele virá à existência.

O texto de Colossenses 3.1-4 diz, de forma semelhante, que quando Cristo – que é a nossa vida – se manifestar, nós também seremos manifestados com Ele, em glória. No presente, já temos vida n’Ele, e essa nova vida que possuímos (invisível para o mundo), irromperá em plena realidade e visibilidade corpórea.

A passagem mais clara está em Romanos 8.9-11. Se o Espírito de Deus habita em vocês, diz Paulo, então “aquele que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também os seus corpos mortais, por meio do seu Espírito”. Deus dará vida, não a um espírito sem corpo, mas a seus “corpos mortais”.

Paulo não é o único no Novo Testamento a sustentar tal ensino. João declara que, quando Jesus “se manifestar”, seremos “semelhantes a Ele, porque havemos de vê-lo como Ele é” (I João 3.1-3). O corpo ressurreto de Jesus, que no presente é quase inimaginável para nós em sua glória e poder, será o modelo do nosso corpo.

Preciso detalhar ainda mais uma questão que tratei no início: o que Jesus quis dizer quando declarou que havia muitas “moradas” na casa do seu pai? (João14.2).

Essa expressão tem sido usada, de modo geral, no contexto de perda ou desolação, com o sentido de que os mortos (ou ao menos os mortos cristãos) simplesmente irão para o céu para sempre, em vez de serem ressuscitados para uma nova vida corpórea.

Porém, a palavra usada aqui para “moradas” é monai, normalmente usada no grego para designar não um descanso eterno, mas uma escala durante uma viagem para algum outro lugar, no futuro. Para os que morrerem na fé, antes da ressurreição, a promessa é de estar com Jesus.

Nas palavras de Paulo aos filipenses, morrer é “partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Filipenses 1.23). Ressurreição nada tem a ver com esse pensamento. Não é uma maneira de se referir à “vida após a morte”. Ressurreição é uma nova vida corpórea após algum tipo de existência depois da morte.

O que podemos dizer sobre passagens como a de I Pedro 1, onde fala de uma salvação que “está reservada nos céus”? Para a maioria dos cristãos, essa passagem está dizendo que o céu é o lugar onde iremos receber a “salvação”, ou mesmo que a “salvação” consiste em irmos para o céu quando morrermos. O que Pedro está dizendo é que o céu é o lugar onde os propósitos de Deus para o futuro estão guardados. Eles não permanecerão ali para sempre, pois nesse caso seria necessário ir ao céu para desfrutar deles, mas é ali que eles são mantidos a salvo, até o dia em que se tornarão realidade na terra.

A herança futura de Deus, o novo mundo incorruptível e os novos corpos que devem habitar esse novo mundo recriado, já estão mantidos a salvo esperando por nós. Eles serão trazidos a este mundo, no novo céu e na nova terra.

Apocalipse 2 1-22 descreve um novo céu e uma nova terra, criados por Deus para serem o lar dos justos. O importante a respeito desta nova criação é que aqui, por fim, Deus e a humanidade redimida viverão juntos em comunhão e harmonia. Para nós, isto quer dizer que “o mesmo Deus estará com eles e será seu Deus..., não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (21.3,4). Para Deus, isto significa o cumprimento das possibilidades que eram inerentes na criação original de um Adão e uma Eva inocentes.
 
O Senhor agora fará novas todas as coisas e criará um novo céu e uma nova terra. Fazendo Sua criação do primeiro céu e primeira terra desaparecerem, Ele fará uma nova terra e um novo céu. Deus fará o novo céu e a nova terra e viverá com os santos. Os santos que participarem da primeira ressurreição partilharão desta bênção. Isso é algo que a humanidade não poderia sequer sonhar com suas mentes humanas, mas é o que Deus preparou para os Seus santos. Os santos e todas as coisas darão glória, honra, louvor e graças a Deus por suas grandes obras.

É Deus quem desce aqui na terra para viver com os homens, Deus vai trazer o tabernáculo celeste, que é a Nova Jerusalém para junto dos homens aqui na terra.

Vendo desta forma poderemos dizer que: Não vamos morar no céu com Deus, mas Deus trará o céu até nós para morar conosco. (Compilado + Lucas Banzoli).

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Os Gigantes da Bíblia

Interpretação sobre os "filhos de Deus": Algumas interpretações defendem que os "filhos de Deus" mencionados em Gênesis 6 se referem aos descendentes de Sete, que buscavam viver uma vida justa e piedosa. Essa visão contrasta os "filhos de Deus" com as "filhas dos homens", descendentes de Caim, frequentemente associados à impiedade e ao pecado. 

Essa interpretação enfatiza uma distinção entre os justos e os ímpios, em vez de interpretar os "filhos de Deus" como anjos.

Gigantes e anomalias genéticas: A ideia de que os gigantes mencionados na Bíblia eram o resultado de anomalias genéticas ou condições ambientais específicas é uma interpretação que busca uma explicação natural para a existência desses seres. Ela destaca que, naquela época, as condições de vida e os fatores ambientais poderiam ter contribuído para o desenvolvimento de pessoas de estatura física impressionante.

Interpretação dos Nefilins: A palavra "Nefilins" é frequentemente interpretada de diferentes maneiras. Enquanto algumas interpretações a veem como referência a seres de estatura física imponente, outras a consideram como pessoas poderosas e influentes, não necessariamente gigantes no sentido literal, mas sim destacando seu status e prestígio na sociedade da época.

Enfoque na literalidade da Bíblia: Algumas das reflexões destacam a importância de interpretar a Bíblia de forma literal e enfatizam que as histórias e eventos descritos devem ser entendidos conforme são apresentados no texto bíblico, sem buscar significados simbólicos ou alegóricos. Essa abordagem visa a compreensão direta e simples da mensagem bíblica.

É importante reconhecer que a interpretação da Bíblia pode variar entre diferentes tradições religiosas e grupos teológicos, e que há espaço para uma variedade de perspectivas e entendimentos dentro do contexto da fé. Cada indivíduo pode encontrar significados e insights únicos ao refletir sobre as Escrituras, e é essencial abordar essas questões com respeito e humildade diante da diversidade de interpretações que existem.

Uma abordagem histórica sobre a interpretação dos "filhos de Deus" e dos "Nefilins" em Gênesis 6:1-4 pode ser elucidativa.

Ao longo dos séculos, essa passagem tem sido objeto de interpretação variada dentro da tradição judaico-cristã.

Interpretação Judaica Antiga: No judaísmo antigo, alguns rabinos interpretavam os "filhos de Deus" como sendo os descendentes de Sete, que eram considerados justos, e as "filhas dos homens" como sendo descendentes de Caim, que eram vistos como ímpios. Essa interpretação enfatiza a ideia de uma divisão entre os justos e os ímpios na sociedade pré-diluviana.

Interpretação Cristã Primitiva: Nos primeiros séculos do cristianismo, algumas correntes interpretativas, influenciadas pela tradição judaica, também viam os "filhos de Deus" como descendentes piedosos de Sete. No entanto, com o tempo, surgiram interpretações alternativas que identificavam os "filhos de Deus" como anjos caídos.

Interpretação Patrística e Medieval: Muitos dos pais da igreja, como Orígenes e Agostinho de Hipona, adotaram a interpretação de que os "filhos de Deus" eram anjos caídos que se relacionaram com mulheres humanas. Essa visão ganhou destaque na teologia cristã durante a Idade Média e influenciou significativamente a compreensão da passagem.

Reforma e Pós-Reforma: Durante a Reforma Protestante e o período pós-reforma, houve uma variedade de interpretações sobre essa passagem. Alguns teólogos reformados mantiveram a visão tradicional de que os "filhos de Deus" eram anjos, enquanto outros adotaram interpretações mais alegóricas ou simbólicas.

Interpretações Modernas: No período moderno, com o avanço dos estudos bíblicos e a influência da crítica histórica, surgiram diversas interpretações sobre Gênesis 6:1-4. Algumas abordagens buscam compreender o texto dentro de seu contexto cultural e literário, enquanto outras enfatizam aspectos teológicos mais amplos, como o tema da justiça e da corrupção moral na sociedade humana.

Ao longo da história, a interpretação dos "filhos de Deus" em Gênesis 6:1-4 tem sido diversificada e sujeita a mudanças de acordo com o contexto cultural, teológico e hermenêutico. Essa passagem continua a ser objeto de estudo e debate entre estudiosos e teólogos, refletindo a complexidade da tradição religiosa judaico-cristã e sua interpretação das Escrituras.

Existem algumas interpretações e teorias que buscam abordar a questão da sobrevivência dos gigantes pós-diluvianos.

Descendência de Noé: Alguns sugerem que os gigantes "pós-diluvianos" podem ter surgido como resultado de mutações genéticas ou outras causas naturais que ocorreram entre os descendentes de Noé após o dilúvio. Essa visão argumenta que, mesmo que Noé e sua família fossem de estatura normal, poderiam ter ocorrido mudanças genéticas ao longo das gerações que resultaram em pessoas de estatura incomum.

Sobrevivência de Nefilins: Outra teoria sugere que alguns dos Nefilins, os gigantes mencionados em Gênesis 6:1-4, podem ter sobrevivido ao dilúvio de alguma forma e continuado a existir após o evento catastrófico. Isso poderia ter acontecido por meio de descendência ou de alguma forma de preservação especial durante o dilúvio.

Interpretação Simbólica: Alguns teólogos interpretam os relatos sobre os gigantes de forma mais simbólica ou figurativa, entendendo-os como representações de poder, influência ou opressão em determinados períodos históricos. Nessa perspectiva, os gigantes não são entendidos literalmente como pessoas de estatura física incomum, mas como figuras que exerciam domínio sobre os outros devido ao seu poder político, militar ou econômico.

Dentro da tradição judaico-cristã, além das interpretações mencionadas anteriormente, existem outros pontos de vista sobre os gigantes "pós-diluvianos". Aqui estão alguns exemplos adicionais:

Descendência de Linhagens Diferentes: Alguns estudiosos propõem que os gigantes pós-diluvianos podem ter surgido de uma linhagem ou grupo étnico diferente daquele de Noé e sua família. Essa interpretação sugere que, além dos descendentes de Noé, pode ter havido outros grupos de humanos que sobreviveram ao dilúvio e eventualmente deram origem a pessoas de estatura incomum.

Migração ou Contato com Outros Grupos: Outra teoria é que os gigantes pós-diluvianos podem ter surgido como resultado da migração ou do contato com grupos humanos que viviam em regiões distantes e que não foram afetados pelo dilúvio. Essa interpretação pressupõe a existência de comunidades humanas isoladas que desenvolveram características físicas distintas ao longo do tempo.

Influência de Seres Sobrenaturais: Alguns teólogos e estudiosos sugerem que os gigantes pós-diluvianos podem ter sido influenciados ou criados por seres sobrenaturais, como demônios ou entidades espirituais malignas. De acordo com essa visão, os gigantes não seriam necessariamente descendentes humanos, mas sim seres criados ou modificados por forças espirituais.

Evolução ou Adaptação: Alguns teólogos e estudiosos consideram a possibilidade de que os gigantes pós-diluvianos tenham surgido como resultado de processos evolutivos ou de adaptação ao ambiente. Essa interpretação sugere que mudanças ambientais ou seleção natural poderiam ter levado ao desenvolvimento de características físicas incomuns em certas populações humanas.

Esses são apenas alguns exemplos de diferentes pontos de vista sobre os gigantes "pós-diluvianos" dentro da tradição judaico-cristã. Cada interpretação busca reconciliar as narrativas bíblicas com os dados históricos, científicos e teológicos disponíveis, refletindo a diversidade de abordagens e perspectivas dentro do estudo das Escrituras e da fé religiosa.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

“Bem-aventurados sois vós...”
(Mt 5,11)

Todo ser humano deseja ser feliz, e o desejo de felicidade é o dinamismo mais profundo que toda pessoa traz inscrita no íntimo do seu ser. Em outras palavras, a aspiração primeira que nos habita é a “alegria de viver”. Por isso, atentar contra a felicidade de viver é a agressão mais grave que se pode cometer contra o ser humano.

No entanto, na experiência de fé de muitas pessoas, a imagem de “Deus” não está associada à busca da “felicidade”. De fato, são muitos os que veem em Deus um autêntico rival da própria felicidade, pois costumam relacionar Deus com a proibição de muitas coisas que lhes dão prazer e lhes fazem felizes, ou com a obrigação de fazer outras coisas que lhes são pesadas e desagradáveis.

E, sobretudo, para muitos, “Deus” é uma ameaça, uma proibição constante, uma censura, um juiz implacável com o código de leis nas mãos... enfim, uma carga pesada que complica a vida, tornando-a sem sabor e sem sentido

Além disso, muita gente vê em Deus a imposição de verdades que não compreende, a limitação da própria liberdade, a necessidade de submeter-se a poderes e autoridades que lhe causam rejeição...

E, para culminar, são muitos aqueles cuja experiência de fé é vivida de maneira negativa, alimentando culpas, acentuando os escrúpulos, fomentando divisões e conflitos internos, comportamentos de caráter obsessivo, práticas piedosas carregadas de moralismo e expiação..., e outras patologias.

É evidente que um “Deus” assim gera, nas pessoas, sentimentos de culpa, de insegurança e de medo. Podemos, então, compreender perfeitamente porque muitas pessoas prescindem de Deus em suas vidas, inclusive, recusam abertamente tudo o que se refere a Deus, à religião e aos seus representantes. Um “Deus” que é percebido e sentido como um problema, como uma presença que entra em conflito com nossa felicidade, por mais que nos digam que Ele é bom, que nos ama e que é Pai, é e será sempre um “deus” inaceitável e até insuportável.

Um Deus assim não tem e nem pode ter relação alguma com a aspiração maior que carregamos dentro de nós: o desejo de sermos felizes na vida.

Não é fácil passar de uma espiritualidade que fez do sofrimento e do sacrifício um lugar de redenção, de santidade, de predileção por parte de Deus, a uma espiritualidade que integra a busca da felicidade, não só como um direito humano, senão como um sinal do Reino.

Falar de felicidade nos leva necessariamente a nos perguntar se é possível ser felizes em um mundo cheio de dores, injustiças, mortes prematuras, solidão, vida sem sentido...

No entanto, como seres humanos não podemos renunciar à busca da felicidade. O importante é que não vivamos esta busca de uma maneira solitária, nem que nossa busca seja à custa dos outros ou à margem das grandes maiorias sofredoras. A isso não se pode chamar felicidade.

A felicidade é a busca fundamental do ser humano, o sonho da humanidade desde o começo da história. O difícil é ter sabedoria para poder reconhecer os caminhos que nos conduzem a ela.

As Bem-aventuranças é um programa para viver a felicidade; e o motivo primeiro é porque todas elas são, na verdade, o caminho da santidade universal (acima e além de toda religião, pois elas são simples e profundamente humanas). As Bem-aventuranças são como o mapa de navegação para nossa vida; são o horizonte de sentido e o ambiente favorável para nossa santificação, entendida como empenho para viver com mais plenitude, segundo o querer de Deus.

Jesus, num determinado dia, subiu à montanha e com grande solenidade declarou felizes os pobres, os aflitos por causa do Reino, os mansos que não recorrem à violência, os que tem fome e sede de justiça, os misericordiosos, os que não tem segundas-intenções no coração, os que trabalham em favor da paz, os perseguidos por causa da justiça. Todos eles(as) são declarados felizes porque são os que mais se parecem com Deus, ou seja, deixam transparecer em suas vidas a santidade d’Ele. E a felicidade está justamente na vivência do chamado universal à santidade.

A santidade é, pois, um dom recebido de Deus, que alimenta na pessoa o desejo e a disposição de “sair de si mesma” para viver a experiência do amor na relação com o mesmo Deus, no encontro com os outros e no cuidado e proteção da Criação.

“Viver a partir da santidade de Deus” representa a melhor definição da santidade cristã: reconhecer-nos como quem recebe tudo de Deus, deixar-nos amar e guiar por Ele, assemelhar-nos a Ele para fazer carne viva em nós os sentimentos de compaixão e misericórdia que Ele tem com as pessoas.

Em outras palavras, a santidade significa viver o divino que há em nós. Só descobrindo o que há de Deus em nós, poderemos cair na conta da nossa verdadeira identidade.

Todos somos santos, porque nosso verdadeiro ser é o que há de Deus em nós; embora a imensa maioria das pessoas não tem consciência disso ainda, não podemos deixar de manifestar o que somos. Somos santos pelo que Deus é em nós, não pelo que nós somos para Deus. Para Jesus, é santa a pessoa que descobre o amor que chega até ela sem mérito algum de sua parte, mas deixa-se envolver por este amor expansivo e passa a viver uma presença amorosa.

Somos convidados a deixar semear na terra de nossa vida o anúncio mais impressionante de felicidade que Jesus nos faz. Como não ficar maravilhados diante das bem-aventuranças e deixar que cada uma delas nos des-vele e nos fale d’Ele? De fato, elas são o auto-retrato de Jesus; antes de proclamá-las, Ele as viveu na radicalidade.

As bem-aventuranças constituem a carta magna do Reino e princípio fundamental do seguidor de Jesus; nela aparece a visão que Jesus tinha e desejava para o ser humano. Elas oferecem um programa de felicidade e de esperança, ou seja, elas nos ensinam a ser ditosos, no desprendimento e na solidariedade, na pureza de coração e de vida, na liberdade radical, na esperança... tanto no nível pessoal como comunitário.

As bem-aventuranças compartilham uma mesma visão: valem para todos os seres humanos.

O Deus que nelas aparece não é “confessional”, não é “patrimônio” de uma religião específica; não exige nenhum ritual de nenhuma religião, senão o “rito” da simples religião humana: a pobreza, a opção pelos pobres, a transparência de coração, a fome e sede de justiça, a luta pela paz, a perseguição como consequência do empenho em favor da Causa do Reino...

Essa “religião humana básica fundamental” é a que Jesus proclama como “código de santidade universal”, para todos os santos. Adroaldo Palaoro (Sacerdote Jesuíta).

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Necrose Espiritual

A necrose espiritual é uma condição devastadora que afeta a alma humana de maneira profunda e progressiva. Ela se manifesta como um gradual apodrecimento interior, onde as virtudes e os valores espirituais perdem sua vitalidade e significado. Seus sintomas são insidiosos e muitas vezes passam despercebidos até que a doença tenha se espalhado por toda a alma.
É crucial reconhecer os sinais da necrose espiritual e agir rapidamente para restaurar a saúde espiritual. A conversão sincera e o retorno ao amor e à devoção a Deus são essenciais para reavivar a alma e restaurar sua vitalidade espiritual. Somente através desse processo de cura e renovação podemos evitar a putrefação espiritual total e a perda definitiva da conexão com o divino.

Assim como a necrose física é caracterizada pela morte do tecido em um organismo vivo, a necrose espiritual representa a morte das faculdades da alma que nos conectam com o divino. Pode se propagar pela comunidade de fé, enfraquecendo-a e minando sua vitalidade espiritual.

Inicialmente, pode-se notar uma perda de sensibilidade espiritual, onde as pessoas afetadas não conseguem mais sentir a presença de Deus ou experimentar a alegria da comunhão espiritual. Como uma mão cujo pulso foi quebrado, a conexão vital com o sagrado é interrompida, deixando apenas um membro inerte e sem vida.

À medida que a necrose espiritual avança, os sintomas se agravam. A fé e a esperança, representadas pelos tendões da mão, tornam-se enfraquecidas e frágeis. Aqueles que sofrem desse mal podem ainda professar sua convicção, mas ela se torna vazia e desprovida de poder transformador. A esperança se torna mera resignação e a fé, uma formalidade sem vida.

Como resultado desse processo de deterioração espiritual, a alma se encontra em um estado deplorável, semelhante a um membro necrosado e atrofiado. A pessoa afetada perde a capacidade de responder ao chamado divino, e sua vida espiritual se torna uma sombra do que um dia foi.

Quando alguém é infectado pela necrose espiritual, sua mente e coração se tornam insensíveis à influência do Espírito Santo. Mensagens poderosas, conselhos sábios e até mesmo a leitura da Bíblia não conseguem penetrar nas profundezas de sua alma necrosada.

O orgulho e a vaidade humana são frequentemente identificados como as principais causas desse entupimento espiritual. Assim como o excesso de gordura pode obstruir uma veia no corpo físico, o orgulho e a vaidade entopem os canais espirituais que mantêm a vida espiritual fluindo. A autoconfiança e a busca por glória pessoal obscurecem a visão da necessidade de dependência total de Deus. É como se uma veia crucial estivesse entupida, impedindo o fluxo vital do Espírito para aquela parte do corpo espiritual.

É de extrema importância exercer cuidado ao reconhecer os sinais da necrose espiritual, que se manifesta através de palavras corrosivas e ações que promovem discórdia e rebelião entre os membros do corpo de Cristo. Aprender a discernir se uma fonte é saudável ou não, se suas palavras edificam ou destroem, é crucial para proteger nossa própria vida espiritual.

Os médicos chamam "enfarte" à obstrução de uma artéria, com o relativo bloqueio do fluxo de sangue e a consequente necrose daquela parte concreta do corpo que o sangue já não é capaz de irrigar e vivificar. Da mesma forma, também na vida dos fiéis e até no Corpo místico de Cristo podem verificar-se "enfartes espirituais."

Se um membro do corpo necrosou, o que o médico faz? Não há outro remédio senão amputá-lo, para que a necrose não se expanda para outros membros, levando o corpo inteiro à morte. Da mesma forma, quando a Igreja aplica a sua autoridade espiritual para tratar "enfartes espirituais" dentro do Corpo de Cristo, ela pode se encontrar diante da dolorosa necessidade de tomar medidas drásticas para preservar a saúde espiritual do corpo como um todo.

Encarar uma pessoa necrosada espiritualmente pode provocar uma sensação de mal-estar profundo. É angustiante testemunhar a destruição gradual de uma parte do corpo espiritual, consumida por agentes espirituais nocivos que corroem as células da fé e da devoção.

Assim como a necrose física é uma visão horrível, a necrose espiritual é igualmente perturbadora, representando uma ameaça séria à saúde espiritual da comunidade de fé como um todo. O perigo da necrose espiritual não reside apenas na perda da vida espiritual individual, mas também na contaminação do corpo de Cristo como um todo.

A necrose espiritual não é apenas um problema individual; ela afeta toda a comunidade de fé. Assim como um corpo humano sente a dor quando um de seus membros está ferido, a igreja como um corpo místico sofre quando seus membros estão espiritualmente necrosados.
É imperativo tratar a necrose espiritual com urgência e determinação. Assim como a intervenção médica é necessária para remover o tecido morto e restaurar a circulação sanguínea, o tratamento espiritual requer humildade, arrependimento e uma rendição completa a Deus. Somente através da remoção do orgulho e da vaidade, e do restabelecimento da conexão íntima com Deus, podemos esperar restaurar a saúde espiritual e preservar a vida do corpo de Cristo. Quando a indiferença e a apatia espiritual se instalam, a comunhão e a solidariedade são substituídas pelo egoísmo e pela alienação.

Portanto, a Igreja, assim como um médico, deve agir com sabedoria e amor ao lidar com os "enfartes espirituais", buscando a restauração e a saúde espiritual de todos os seus membros.
A disciplina eclesiástica visa não apenas corrigir o indivíduo em falta, mas também proteger o restante do corpo de Cristo da contaminação espiritual. É um ato de amor e responsabilidade, visando o bem-estar espiritual de toda a comunidade.

Diversas igrejas estão enfrentando uma forma avançada de necrose espiritual, onde as lesões irreversíveis nos tecidos da fé e da devoção resultam na morte celular ou tecidual acidental em um organismo ainda vivo. Esta condição, às vezes chamada de "morte programada", ocorre quando os agentes patogênicos espirituais alteram as atividades metabólicas e bioquímicas normais das células, levando-as à morte espiritual.

Infelizmente, vemos pessoas dentro das igrejas pecando sem arrependimento, vivendo em adultério, roubando e perdendo completamente a sensibilidade espiritual. Isso afeta não apenas os membros individuais, mas também líderes de todas as esferas eclesiásticas, propagando a doença espiritual para outros.
 
No entanto, há esperança mesmo nos momentos mais sombrios. Assim como Cristo chamou Lázaro para fora do sepulcro, Ele continua nos chamando para sair da necrose espiritual e iniciar uma nova vida em Sua luz. O perdão de Deus e Sua misericórdia nos libertam do pecado e nos trazem paz. Sua misericórdia é uma luz de amor e ternura, transcendendo todas as leis e bloqueios humanos.

Portanto, devemos responder ao chamado de Cristo para sair do túmulo espiritual do pecado, reconhecendo Sua presença misericordiosa e buscando uma vida renovada em Sua graça. Somente através de um encontro pessoal com Ele podemos encontrar verdadeira felicidade, liberdade e salvação.

Por isso, é fundamental avaliar a fonte da mensagem, discernindo se ela edifica ou destrói. Ao adotar esses cuidados, podemos nos proteger dos efeitos nocivos da gangrena espiritual, mesmo que ela esteja presente em outras partes do corpo de Cristo.

É lamentável constatar que muitas igrejas estão enfrentando uma forma avançada de necrose espiritual. A necrose, sendo a manifestação final de células que sofreram danos irreversíveis, representa a morte celular ou tecidual acidental em um organismo ainda vivo. Embora a morte celular seja um processo natural para a manutenção do equilíbrio tecidual, quando ela ocorre de maneira descontrolada, pode levar à destruição dos tecidos e órgãos afetados.

Nesse contexto, a necrose espiritual pode ser vista como uma forma de "morte programada" da vida espiritual, onde a falta de nutrição adequada e a presença de agentes patogênicos espirituais levam à degeneração e morte dos valores e princípios espirituais que sustentam a comunidade de fé.

É uma condição grave que afeta muitos cristãos, levando à morte espiritual de partes significativas de sua fé e devoção. Assim como a necrose física resulta da falta de irrigação sanguínea, a necrose espiritual ocorre quando a vida espiritual é sufocada pela falta de conexão com a fonte de vida, que é Deus.

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